Sou vascaíno. Apaixonado por futebol. Poderia ter me tornado torcedor de outro time, vá explicar os caminhos da vida. Mas meu tio/primo era vascaíno, meu pai é mulambo (flamenguista)... pronto, não tem explicação. Mas não quero falar do Vasco agora. Quero falar de futebol. E estive pensando no Edmundo, que pode ser tanto sinônimo de Vasco quanto desse esporte que, sinceramente, de bretão não tem nada. Futebol rima com Brasil.
Ontem, Edmundo perdeu o pênalti contra o Sport e o Vasco foi eliminado. Em pleno São Januário, lotado de torcedores que, esperançosos, não podiam pensar com frieza. Eu também não pude, pois sou torcedor apaixonado também. Mas, hoje, parei para pensar, depois de ver o Animal, com olhos chorosos, dizendo que ia parar, dizendo que não agüentava mais essas emoções... Ontem, sofri por causa dele, mas hoje estou feliz pelo mesmo motivo. Parece contraditório?
Contraditório é torcer por quem não demonstra paixão nenhuma por mim, torcedor. Por quem só quer dinheiro, fama e poder. Ei, calma aí, não sou um utópico e ingênuo que não quer dinheiro. Quero sim, quero viver bem, viajar, aproveitar. Só não preciso é de exageros, de abuso, de ostentação.
Cansei. Cansei de ver os jogadores, profissionais da bola, virarem as costas pra mim com um simples aceno do velho mundo. De ver minha seleção formada por jogadores que, de brasileiros, só têm a certidão de nascimento. De ver o atleta que beija o escudo de um time menos de um ano depois de jurar amor exatamente ao rival. Além disso, de dirigentes que enriquecem com isso, com a ganância e a voracidade dos atletas. E com essa minha paixão, até. Nem venham me acusar, e afirmar que eu devia era parar de torcer então. Não esqueçam: paixão sim, e tenho direito a ela. Não vou deixar de querer, de acreditar, de torcer porque alguns se aproveitam do futebol. Preciso, preciso sentir a torcida gritando, o estádio tremendo, o cara do meu lado, que nunca havia visto, chorando de alegria com um gol. Que seja de tristeza, pois isso é parte também. É até importante, caramba.
Poderia citar muitos, muitos caras. Bons caras. Que equilibraram a paixão com o profissionalismo, com o seu ganha-pão. O Roberto, Dinamite, comemorando seu último título como profissional, o Campeonato Carioca de 1992 (tinha só 8 anos e foi aí que me dei conta de que era vascaíno), ou o Zico, que só vi jogando ao vivo com a camisa do Vasco, num amistoso contra o La Coruña, em que o Vasco perdeu por 2x0 e era a despedida do Roberto... o mesmo Zico que foi algoz do meu Vasco tantas vezes. Mas, e daí? Não deixaria de admirá-lo por isso. Sorte dos flamenguistas. Tenho amigos mulambos, muitos por sinal. São meus rivais no futebol, não meus inimigos na vida. E, por tudo isso, desejo que o Edmundo não pare agora. E, se quiser, batendo seus pênaltis. São jogadores assim que reacendem minha paixão. Gente que é humana, erra, acerta, mas que demonstra paixão. Que vibra. E sofre, como eu sofro. Não é como alguns por aí, frios, milionários. Que parecem que jogam – e vivem – pelo dinheiro, só por ele. E nem aqui moram mais. Ganham em um ano o que eu provavelmente não ganharei em toda minha vida. Claro, eles têm esse direito. Mas eu também tenho o direito de ter como ídolo alguém mais vibrante, mais humano até, como eu e tantos outros, apaixonados por futebol.
Profissionalismo nunca atrapalhou. Ele é fundamental. Mas, essa frieza, essa voracidade financeira, ah!, isso não é ser profissional. E, lembremos: amador é adjetivo, e significa “aquele que ama”. Por que aceitar que profissional é quem deixou de amar?