sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Vizinhança

a minha rua possui doze postes de iluminação pública. se para cada um a distancia é de 50 metros, eu e meu porteiro concordamos que temos 100 metros de vizinhos de cada lado da rua. conto como vizinhos apenas os prédios e casas inclusos nesses 100 metros. o meu lado conta com pelo menos 65 metros de pessoas insignificantes, mas vou encaixá-los na lacuna de vizinhos, já que os vejo com regularidade indesejada. para o bem ou para o mal. na prédio da frente, ao lado esquerdo, mora uma família evangélica detentora de um pequeno comércio varejista de inutilidades e guloseimas. passaram os últimos 40 anos praticando a arte do viver mal em sociedade. dizem que mudaram a partir de 2002. Brasil campeão de futebol e eles nunca mais foram o mesmo. para o bem. quase passei a acreditar que o futebol é uma coisa mesmo incrível e consegue unificar os povos em busca de um só sonho. agora sei que o patriarca da família está mesmo é morrendo de algum tipo de câncer e resolveu ser um cara agradável, o que é um verdadeiro contra-senso, já que não faz sentido algum pedir desculpas a alguém se você sabe que vai morrer. ao lado deles e de frente pro meu prédio moram vizinhos relativamente novos. ainda não completaram 2 meses na rua, embora a casa já deva ter umas 5 décadas. a matriarca da casa é surda e isso parcialmente explica os mais de 20 anos de matrimônio, já que o marido dela fala pra caralho. são duas filhas. uma bem gostosa e que nunca mais vi e outra que vejo às vezes, mas nunca mais comi. ao lado deles moram uma senhora dona de um bar, o ex marido da senhora dona do bar, a filha deles dois, alguns cachorros e muitos ratos que atravessam a rua no meio da noite. um dia meu porteiro foi dizer a ela sobre os ratos, mas como ela mora com seu ex-marido há mais tempo que eu caminho sobre a face ocidental da terra, não pareceu se importar. me lembro que quando eu era criança e gostava de ir com minha prima brincar com a filha de uma velha parecida com ela, só pra poder ver o altar que ela tinha nos fundos da casa, pros santos e outras divindades do candomblé. um dia derrubei um índio, que derrubou a Maria Padilha, que derrubou um preto-velho e que trincou um vaso de barro. desde então minha memória seletiva só me permite lembrar que nunca mais fui lá. voltando ao assunto, o final da rua é estrnho... já é outro bairro, mas funciona assim: um grande terreno com algumas casas onde existem mais mulheres do que homens, mais praticantes do que virgens, mais filhos do que pais, um gay e todos são parentes. dali não comi quase ninguém. até ao final da rua, são mais três clãs de moradores e com nenhum deles tenho estreitamento de laços. exceto as mulheres, com quem me sinto incrivelmente mais tentado a socializar. possuo algumas qualidades e dentre elas não existe nenhuma que se destaque muito pela dignidade ou integridade moral. isso explica muitas coisas, me poupa de várias outras e me ajuda em quase nenhuma. quase nenhuma.

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